domingo, 24 de maio de 2009

Estudos Teosóficos


TEMAS DE TEOSOFIA

CÉU INFERIOR E OS SEUS 4 PARAÍSOS


Introdução


O céu dos cristãos corresponde ao plano mental dos teósofos (no início do movimento teosófico este mundo foi denominado como o devakhan) e é, portanto, a esfera mais elevada dos 3 mundos. Esta dimensão é denominada pelos hindus como o swar loka ou swarga; os budistas conhecem-na como o sukhavati ou o rupa/arupa loka; para os antigos gregos o mundo mental, era conhecido como os campos elíseos; os antigos egípcios denominavam-no como o sekht ialu; os muçulmanos conhecem-no como o gana; e os nórdicos como o asgard ou, numa acepção mais restrita, o valhalla.

Este mundo está divido em duas grandes regiões, o plano mental superior ou abstracto – a zona onde se expressam os arquétipos divinos para os 3 mundos, onde se materializam as ideias abstractas, generalizantes e sintéticas e; o mental inferior – a região onde as ideias abstractas se densificam, pulverizam e tomam forma em conceitos particulares e concretos.

Iremos em seguida, transcrever alguns trechos da epístola 68 (na compilação da Editora Teosófica, Brasília) das «Cartas dos Mahatmas para A. P.Sinnett». Nesta missiva conhecida como a “carta do devachan”, o Mestre K.H. revela alguns dos princípios que governam a estadia da alma nesta esfera mais elevada e espiritual. Diz Ele: «O devachan, ou terra de sukhavati, é descrito alegoricamente pelo próprio Nosso Senhor Buda. O que Ele disse pode ser encontrado no Shan-yih-Tung. Diz o Tathagata: “Muitos milhares de miríades de sistemas de mundo mais além desse (nosso), há uma região de bem-aventurança chamada sukhavati... Os que nasceram na região abençoada são verdadeiramente felizes, não há mais aflições ou tristezas para eles naquele ciclo... Miríades de espíritos vão até lá para descansar e depois retornam para as suas próprias regiões.” Quem vai para o devachan? O Ego pessoal, é claro, mas beatificado, purificado, sagrado. Cada Ego – a combinação do sexto e sétimo princípios – (em rigor, a combinação da mente abstracta, da intuição e da vontade espiritual – o espírito humano), que depois do período de gestação inconsciente (um período que sucede à morte do corpo astral – a 2ª morte), renasce no Devachan, é necessariamente tão puro e inocente quanto um bebé recém-nascido. O mero facto de ter renascido mostra a preponderância do bem sobre o mal na sua personalidade anterior. E, enquanto o mau Karma fica de lado por algum tempo para segui-lo na sua futura encarnação terrestre, ele traz consigo para este Devachan o carma das suas boas acções, palavras e pensamentos. ... Portanto, todos aqueles que não caíram no lodo do pecado e da bestialidade irrecuperáveis (ou seja, todos aqueles que não foram para a oitava esfera, o planeta da morte) – vão para o Devachan. Eles terão de pagar pelos seus pecados, voluntários e involuntários, mais tarde. Enquanto isso, eles são recompensados; recebem os efeitos das causas produzidas por eles. Naturalmente trata-se de um estado; um estado, digamos assim, de intenso egoísmo (seria talvez mais correcto dizer egocentrismo), durante o qual o Ego colhe a recompensa do seu altruísmo na Terra. Ele está completamente envolvido na benção de todas as suas afeições, preferências e pensamentos pessoais terrestres, e colhe o fruto das suas acções meritórias. Nenhuma dor, nenhuma aflição, e nem mesmo a sombra de uma tristeza surge para escurecer o horizonte iluminado da sua pura felicidade. Ele vive naquele doce sonho com os que ama – quer tenham ido antes ou ainda permaneçam na terra; ele os tem perto de si, tão felizes, tão abençoados e tão inocentes como o próprio sonhador desencarnado; e no entanto, excepto raras visões, os habitantes do nosso planeta denso não o sentem.»

1º Paraíso

Este paraíso é constituído pela matéria mais densa do Plano Mental e, nele residem aquelas almas que têm como nota dominante, os afectos pessoais e altruístas.

2º Paraíso

A matéria do sexto sub-plano mental (contando do mais espiritual para o mais material, do mais subtil para o mais denso), constitui a base desta região e nela se manifestam as almas que têm como característica dominante a devoção antropomórfica, ou seja, o amor dirigido a uma entidade superior com características humanas.

O Bispo Leadbeater descreve no seu livro «O Plano Mental» cap. VII dois casos que ele observou nesta esfera: «Um monge medieval foi visto em extática contemplação de Cristo crucificado, e a intensidade do seu anelante amor e compaixão era tal, que, ao olhar para o sangue das feridas da figura de Cristo, os estigmas se lhe reproduziam no corpo mental. ... Outro homem parecia ter esquecido a triste história da crucificação e só pensava em Cristo glorificado no seu trono, com o mar de vidro diante dele e, sobre o mar, uma multidão entre a qual estava o adorador com a sua mulher e os filhos, os quais amava profundamente porém, os seus pensamentos dirigiam-se à adoração de Cristo, embora tivesse Dele um conceito tão material que o representava mudando caleidoscopicamente entre a figura humana e a do cordeiro com a bandeirinha que se costuma ver nas janelas das igrejas.»

3º Paraíso

Descreve assim Leadbeater na mesma obra no Cap. VIII, logo no início, esta esfera: «A característica principal deste sub-plano (o 5º) é a devoção manifestada em obras positivas. Por exemplo, o cristão neste sub-plano, em vez de se encontrar em extática adoração do seu Salvador (como acontece no 2º paraíso), vê-se a si mesmo a ir pelo mundo trabalhando em Seu nome, difundindo os Seus ensinamentos. ...»

Um dos casos apontados por Leadbeater foi o de um príncipe hindu cujo ideal na terra tinha sido o rei Râma. Esse príncipe enquanto vivo, tinha tentado modelar a sua conduta e os seus métodos de governo ao seu ideal contudo, as coisas não teriam corrido da melhor maneira e teria havido vários contratempos e adversidades. Não obstante, neste céu, os seus planos tiveram êxito e, recebiam do próprio Râma, auxílio e inspiração.

4º Paraíso

Esta esfera é constituída pela substância do 4º sub-plano mental. Este é o paraíso mais elevado do Céu Inferior. Nele se manifestam as almas mais adiantadas envolvendo-se em múltiplas actividades. Leadbeater sistematizou-as em 4 grupos principais: a) as almas que anseiam altruisticamente por conhecimento espiritual; b) as que se dedicam à investigação científica e à reflexão profunda filosófica; c) as que desenvolvem as suas capacidades literárias e artísticas de uma forma altruísta e; por fim, as que se envolvem no serviço por amor ao próximo. Recordemos que as almas que se dedicam à filantropia por amor a um ser elevado, manifestam-se na esfera anterior.

L. descreve-nos alguns casos paradigmáticos no 9º Cap. do «Plano Mental»: «O terceiro tipo de actividade no quarto sub-plano é a do nobilíssimo esforço artístico e literário, inspirado antes de tudo pelo desejo de elevar espiritualmente a humanidade. No quarto sub-plano estão Mozart, Beethoven, Wagner, Bach e outros músicos, inundando o ditoso lugar com harmonias muito mais gloriosas do que aquelas que foram capazes de produzir durante a sua vida terrena. ...» E mais adiante: «Exemplo de estudante genuíno oferece-nos um dos últimos neoplatônicos cujo nome é conservado nos anais daquele período. Durante a sua vida terrena procurou dominar os ensinos da escola neoplatônica e na sua vida celeste ocupava-se a investigar os seus mistérios e a compreender a sua importância no desenvolvimento da vida humana.»

Em suma, nesta região do Além, a alma digere as experiências porque passou na sua vida terrena e astral e transforma-as em capacidades morais ou intelectuais que depois, nas próximas vidas, utilizará nas diversas circunstâncias concretas. Este não é só um mundo de bem-aventurança, é também um tempo de assimilação e de auto-construção. É aqui que são forjados os talentos e os dons que depois se expressam na vida terrena.

J.P.G.
Ramo Aquário; email: joaogomes10@mail.telepac.pt

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